“Essa história foi originalmente publicada como parte do projeto Plataforma Global de Justiça Climática”
Meu nome é Jonathan Feijó, tenho 23 anos e sou natural de Pelotas, no extremo sul do Brasil.
Minha trajetória no ativismo climático iniciou em 2020, quando co-fundei o Eco Pelo Clima e me juntei ao movimento Fridays for Future. De lá pra cá aconteceu muita coisa, entre greves pelo clima, digital strikes, lives, projetos, entrevistas, reuniões, e muito estudo. Eu estudo Relações Internacionais na Universidade Federal de Pelotas, e nesses últimos anos, me tornei também mobilizador da Embaixada Politize Pelotas, Líder da Realidade Climática, e militante do movimento estudantil.
Buscar conhecimento sobre questões relacionadas ao meio ambiente para mim foi um movimento contra a corrente. Afinal, é comum para a galera da periferia ocupar o tempo buscando suprir necessidades mais básicas. Mas aqui estou eu, em 2022, combatendo o governo Bolsonaro e tentando comunicar a pessoas como eu sobre política, educação e meio ambiente, de forma que elas enxerguem o papel fundamental delas na transformação do mundo.
Ao passo que fui me encontrando na luta socioambiental, senti grande necessidade de buscar experiências que pudessem amplificar o trabalho que eu já vinha desenvolvendo. E assim, em 2021 estive embaixador do Politize, que é a maior organização de educação política do Brasil, fui embaixador do Dia Internacional da Juventude Brasil, maior movimento pelo Dia Internacional da Juventude do mundo, e passei pela formação de liderança da Climate Reality. Ainda em 2021, passei por uma formação da Universidade da República do Uruguai sobre fluxos migratórios contemporâneos, de forma a adquirir alguma bagagem que me dê suporte para tratar de um grande problema que nos espera, que é o refúgio climático.
No meu ativismo, eu busco sempre carregar pautas que dizem muito de quem eu sou e de onde eu vim. Quando dialogo sobre emergência climática, eu discuto juntamente problemáticas sociais, visto que, eu enquanto um jovem afrolatino, bissexual e periférico não vejo como possa se dar uma discussão sobre o futuro do planeta sem que a gente discuta o futuro das pessoas, mais especificamente das pessoas não brancas do sul global.
Comumente somos apagados no movimento ambientalista, que além de branco, é elitista. Mas mesmo assim resistimos, é importante que nós ocupemos esses espaços, afinal a emergência climática diz muito sobre a gente, sobre como somos expostos, violentados, silenciados e temos nossos futuros sequer levados em consideração. É bastante comum dentre os ativistas, o discurso da luta pelo futuro das próximas gerações, mas a verdade é que essa luta me parece bastante restrita ao futuro das crianças brancas, porque nesse exato momento milhares de jovens e crianças pretas estão vivendo em cenários de guerra e não se fala sobre isso com alguma profundidade. A maioria sequer consegue falar sobre racismo ambiental, e isso quando sabem o que é. É escancarada a necessidade que temos de quadros negros trabalhando e debatendo a emergência climática. Nós precisamos nos encontrar nesses espaços, eu tô muito cansado de ser o único.
É conveniente numa sociedade racista que nós permaneçamos ignorantes. Dito isto, se você que está lendo e é um jovem não branco, eu te convido a se aprofundar nas questões da emergência climática e do racismo ambiental, e a compartilhar esses conhecimentos nos seus círculos, pois como acertadamente diz o Rapper Emicida: tudo o que nóiz tem, é nóiz.